Cirurgia pelo SUS é assegurada por lei e contribui para a recuperação da autoestima e qualidade de vida da mulher mastectomizada
Manaus – Foi em agosto de 2009 que Wanda Souza, 57, descobriu que tinha câncer de mama. O diagnóstico mudou a vida da professora. Mesmo não sendo um tipo de câncer mamário tão agressivo, Wanda teve que passar por uma mastectomia parcial para retirar o corpo estranho localizado no seio direito.
“Fiz uma quadrantectomia, tiraram a parte de baixo do meu peito direito. A área ficou com um afundamento”, conta Wanda. A perda de parte do seio incomodou a professora, que sempre foi bastante vaidosa.
“O seio é um referencial muito grande para uma mulher, não só estético, mas como símbolo de fonte de vida. É ligado ao teu emocional. Quando você recebe o diagnóstico e sabe que vai perder parte do corpo, começa a pensar várias coisas. Acha que o companheiro vai embora ou que não vai mais conseguir se relacionar com alguém. Tudo isso e mais passa pela sua cabeça”, diz.
Foi só três anos depois que Wanda teve a oportunidade de fazer a cirurgia para reconstrução da mama. Inicialmente, ela não queria passar por outro procedimento cirúrgico. “Não me incomodava ao ponto de querer passar por uma cirurgia de novo. Parecia injusto me incomodar quando outras mulheres tiveram perda total do seio ou mesmo morreram”, justifica. Somente após conversas com o médico mastologista ela se convenceu.
“A cirurgia reparadora foi feita com o tecido do próprio seio, ele foi moldado de novo”, relata. O resultado só fez bem à Wanda. “Eu me senti melhor. Não que fosse algo extremamente visível, mas me senti muito bem depois da cirurgia. Não permiti nenhuma vaidade além do limite, mas é uma coisa boa ver parte do seu corpo de volta”.
Tipos de cirurgia
A reconstrução de mama aumenta a autoestima e auxilia na recuperação da qualidade de vida da paciente com câncer. A cirurgia pode ser imediata, realizada ao mesmo tempo que a mastectomia; ou tardia, como no caso de Wanda, em que o procedimento é feito em outro momento. Quem indica qual é o melhor momento para fazer a reparação é o mastologista, explica o cirurgião plástico da Fundação de Controle de Oncologia (FCecon), Roberto Alves Pereira.
“Isso depende de vários fatores como o tamanho do tumor, se há metástase etc. Se a reconstrução for imediata, podem ser utilizadas determinadas técnicas. Se a paciente só puder fazer de forma tardia, depois que retira a mama, cicatriza, faz os tratamentos de rádio e quimioterapia, as técnicas podem ser outras, não necessariamente as mesmas para cirurgia imediata”, explica o cirurgião.
Implante de prótese de silicone, uso de expansor cutâneo e transferência de retalhos de pele são as principais técnicas de reconstrução de mama. A prótese de silicone é indicada quando a mastectomia não compromete tanta a quantidade de pele e as pacientes não possuem tecido suficiente para reconstruir a mama. Já no uso de expansores, uma prótese vazia é inserida sob a pele para promover gradualmente a expansão do tecido até atingir o tamanho desejado. Após este primeiro processo, o expansor é removido e o implante definitivo é colocado; expansores definidos que permitem a reconstrução em uma única etapa já são uma realidade. Por fim, na transferência de retalhos de pele, o tecido de uma área do corpo da própria paciente é retirado para reconstruir a mama.
“Nas técnicas tardias, a preferência é fazer reconstrução mamária trazendo tecido de outro local do organismo. A preferência é de tecidos das costas e do abdome. Na reconstrução imediata, nós usamos tecidos da própria região mamária. Cada caso é um caso que deve ser avaliado”, diz Roberto, que acrescenta que não existe técnica melhor do que a outra.
“A paciente deve ser analisada individualmente. Às vezes uma técnica que é boa para uma paciente não é adequada para outra, porque depende da qualidade de pele, da musculatura e outros fatores”, esclarece.
Números
A lei nº 12.802 de 2013 assegura que, quando existirem condições técnicas, a reconstrução de mama deve ser efetuada no mesmo tempo cirúrgico da mastectomia. Caso a paciente não tenha condições clínicas de passar pela reconstrução imediata, ela será encaminhada para acompanhamento e a cirurgia será feita assim que ela apresentar o quadro de saúde ideal para o procedimento.
Segundo o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Vilmar Marques, a cada 100 mulheres mastectomizadas que não fazem a reconstrução imediata, apenas 10 fazem a reparação ao longo da vida.
“A mulher que realiza a reconstrução imediata não passa pelo trauma da amputação. A mastectomia traz problemas pessoais e sociais para a mulher. Ela vai se sentir diferente em relação a seus pares e sua família. É importante que haja prioridade na reconstrução imediata, porque por mais que a cirurgia tardia seja benéfica, na imediata ela não passa por esse trauma”, argumenta o especialista.
O médico também informa que a taxa de cirurgias imediatas realizadas pelo SUS é de 30% entre as mulheres mastectomizadas. “Na reconstrução imediata, 90% delas são realizadas com próteses de silicone ou expansores. Na reconstrução tardia, principalmente quando a paciente já passou por radioterapia, essa reconstrução é feita com retalhos de outras partes do corpo”, explica o médico.
No Amazonas
O único hospital da rede pública que realiza cirurgias de reconstrução de mama no Amazonas é a FCecon. Segundo o médico Roberto Alves Pereira, são feitos quatro procedimentos por mês na instituição. “Somos o hospital de referência para o Estado. Atendemos a Amazônia Legal e até países vizinhos como Venezuela, Colômbia e Bolívia. Somos o único hospital preparado para atender a paciente com câncer de mama e realizar a reconstrução”, afirma o cirurgião, que é o único especialista na área dentro da FCecon atualmente.
Fonte: EmTempo